EM BREVE TEREMOS NOVIDADES.

15 de set. de 2014

Nú de Botas



O post de hoje nada mais é do que um convite. Um passaporte ao universo infantil. Mas não aquele conduzido por um adulto. O passeio é feito sob o ponto de vista de uma criança. Pois, vamos falar a verdade, não tem nada mais rico, mais interessante do que o universo infantil, né mesmo?

Hoje, no auge da nossa vivência adulta, pouco conseguimos lembrar, com detalhes, o mundo de sentimentos que vivemos quando éramos crianças. São sensações, emoções, questionamentos... Descobrir que a vida não é tão óbvia quanto parece (ou, aos olhos infantis, deveria ser) é um misto de frustração e fascinação.

Em "Nú, de botas", Antonio Prata volta a ser criança para contar, numa narrativa cheia de bom humor, algumas maravilhosas passagens da sua infância, nos fazendo relembrar, em cada linha deliciosamente bem escrita, memórias, sentimentos e sensações da nossa própria infância.

No formato de pequenas crônicas, o livro nos diverte, nos emociona e nos convida a revivermos o passado. Os textos são organizados de forma a gerar uma lineraridade, ao mesmo tempo que possuem certa independência entre si. São impagáveis estórias, começando por Gênesis, onde Antonio narra o princípio da sua percepção de mundo, mostrando pra nós (ou nos fazendo lembrar) como o mundo funciona nessa fase; passando pelo esconderijo secreto (afinal, quem nunca teve um cantinho secreto, onde pensava estar completamente invisível e inume à qualquer intempérie da vida?); o medo do vexame público de fazer cocô nas calças; a recompensa inigualável do sorriso arrebatador da nossa mãe; as primeiras traquinagens e o medo de ser descoberto; a disputa pelos brinquedos e instantânea ascensão social promovida por ele ; a missão estressante de acompanhar os adultos em eventos chatos; o fascínio por usar botas (considerando esse o único utensílio de super-herói que você pode usar com qualquer roupa, sem parecer estar fantasiado); a recusa em usar cuecas; o processo de alfabetização (na hilariante passagem 'Cá, cé, cí, có, çú'); a descoberta que cada casa se comporta diferente ('tenho pena dos outros, hereges, vivendo de modo errado'); as diferenças entre o certo e o errado quando se era criança naquela época (década de 80); o primeiro namoro, que era iniciado com um bilhetinho de múltipla escolha no qual era possível optar por ( ) sim, ( ) não, ( ) talvez. Quem nunca? Rsrs… Destacando-se a passagem Blowing in the wind, mas aí só lendo para crer! Rsrs

Nem de longe o livro tem a pretensão de educar pais, mas de tão envolvente que é, nos comove e produz o benéfico efeito colateral da cumplicidade infantil.

"Nú, de botas", certamente, já está na lista dos melhores livros de 2014. Pena que dura apenas uma bela tarde de prazer.

Esse é daqueles livros que faz você querer agradecer pessoalmente o autor pelos ótimos momentos compartilhados. Obrigada, Antonio.









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