A curiosidade e os questionamentos referentes à sexualidade surgem desde muito cedo na vida da criança.
Instigadas pelas descobertas em si mesmas e no ambiente em que vivem, sem pudor, elas brincam na hora de fazer xixi, tomam banho juntas, pedem companhia na hora de evacuar, exibem seu corpo, com a mesma naturalidade que disparam uma infinidade de perguntas sobre a sexualidade humana: “Por que o pipi do papai tem pelo e é maior que o meu?”; “Tem nenê na barriga daquela moça? Como ele foi parar lá dentro”; “Eu posso namorar o papai?”; “O que é transar?”; só para citar algumas.
A partir do momento em que as crianças são desfraldadas, vão descobrindo e experimentando ainda mais seu corpo desnudo. Seus genitais e ânus passam a ser manipulados direta ou indiretamente. Meninos percebem sua ereção e as meninas descobrem que o clitóris provoca “cócegas gostosas”. No escorregador, na cadeira, sentados como índios, fazendo cavalinho na perna de um adulto, com os pés roçando seu genital, as crianças se dão conta das sensações prazerosas vindas destas partes do corpo e, por isto, tendem a repeti-las sempre que possível, a sós ou em público.
Muitos adultos, contudo, não encaram a masturbação infantil como algo natural do desenvolvimento humano. Como resultado, usam palavras ou gestos repressores para impedir a exploração que a criança faz do próprio corpo.
Se a criança “brinca” sozinha com suas partes íntimas e a brincadeira não causa incômodo a outras pessoas, não tem por que interrompê-la. No entanto, é importante pontuar para a criança que a masturbação não pode ocorrer em qualquer lugar. Uma forma de traçar os limites do que é socialmente aceito ou não, é verbalizar que por mais gostoso que seja brincar com os próprios genitais, esta é uma brincadeira que se faz sozinho e sem objetos que possam machucar. Também, é importante evitar que a criança obtenha prazer utilizando-se do corpo de outra pessoa, especialmente se esta não tiver a mesma idade dela. Deixar a criança roçar os genitais na perna de um adulto – ou algo semelhante – é, mesmo que sutilmente, autorizá-la a ter prazer sexual com um adulto.
Assim como brincar com o próprio corpo pulsa entre os pequenos, a maioria das crianças manifesta o desejo de também conhecer e explorar as partes íntimas de outras pessoas: querem olhar, saber como é e até mesmo tocar no corpo dos mais próximos. Além disso, elas passam a questionar e investigar as diferenças entre homem e mulher, menino e menina. Através do faz de conta, as crianças representam e experimentam papéis de mãe, pai, esposa, marido. Elas brincam de médico, despem bonecas e dão banho, brincam de papai e mamãe que se beijam, pela simples curiosidade manifestada nesta idade. Imitam e repetem o que veem, ouvem e observam em casa, na escola, nos meios de comunicação e em outros espaços de convivência. Falam em namorado e querem beijar na boca dos pais ou dos amigos – porém, sem a conotação sexual dada pelo adulto. Podem revelar ainda, a curiosidade pelas cenas do ato sexual (observadas na vida real ou criadas em sua fantasia).
Meninos e meninas estão sempre juntos, sem muita distinção ou grupinhos diferenciados pelo sexo: brincam de casinha, onde ambos podem ser o papai ou a mamãe, jogam bola, dirigem carrinhos, dentre outras brincadeiras. Nesta idade não existe atitude, roupa ou brinquedo de menina ou menino. Aqui, o que vale é a oportunidade de experimentação; isto significa que meninos, por exemplo, não serão “gays” caso desejem passar batom ou prefiram brincar com meninas. Assim como vestem fantasias e imaginam serem super-heróis, as crianças também experimentam o sexo oposto.
Entre tantas perguntas que surgem em busca de orientação e esclarecimento, vale a regra das respostas verdadeiras, claras, objetivas e pontuais, de acordo com a maturidade e curiosidade expressada pela criança. A falta ou erro de informação (vindas de dentro ou de fora de casa) acabam por inibir a busca de conhecimento saudável vivido pelas crianças. Isto não significa que devemos responder a elas absolutamente tudo sobre o assunto questionado, nem de imediato (quando não é possível). Informação em excesso pode “bagunçar” a cabeça da criança. É importante estar atento para identificar aquilo que ela realmente quer saber. Procure responder somente o que lhe foi perguntado; caso ela se interesse mais pelo assunto, ou não tenha compreendido a explicação, não se preocupe, ela fará uma nova pergunta. Acolher o interesse da criança, além de saudável, propicia o fortalecimento da relação de confiança mútua entre os pais e a criança.
Quando o assunto é sexualidade não podemos esquecer que:
1) As conversas sobre sexualidade devem ocorrer naturalmente (o que nem sempre é fácil para alguns pais) como qualquer outra que temos com as crianças.
2) Julgamentos e preconceitos, sempre que possível, devem ser deixados de lado para que a sexualidade não seja vista como tabu.
3) Cuidar do corpo é proteção e não apenas garantia de higiene. Para isto, é preciso ensinar à criança noções de intimidade, público e privado – até onde ela pode ir com seu corpo, com o corpo do outro e o outro com o dela.
4) É fundamental respeitar a privacidade da criança quando ela sinaliza vergonha ou outro desconforto diante de assuntos relacionados à sexualidade ou do nu.
5) Criança é criança, não devendo ser exposta à sexualidade vivida pelo adulto (no banho ou no quarto com os pais, na televisão, nas músicas e danças sensuais, dentre outros ambientes e situações). Estes estímulos geram precocidade e deixam-nas vulneráveis.
6) Existe um limite entre o que é espontâneo e natural para cada fase da sexualidade infantil e o que vai além, como se masturbar com muita frequência, querer ter seus genitais acariciados por outra pessoa, se interessar excessivamente por questões ligadas à sexualidade, repetir cenas sexuais de conteúdo adulto, não ter interesse nenhum pela sexualidade humana, entre outras. Estas situações merecem atenção especial.
Entre inibir as manifestações sexuais das crianças e estimular aquilo que não pertence às etapas de seu desenvolvimento existe um espaço grande, no qual discernimento e orientação com afeto se fazem necessários, permitindo a manifestação das descobertas, da exploração, do prazer e dos sentimentos envolvidos nestes momentos de puro conhecimento para a criança.
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