Já tinha duas semanas que eu não escrevia para o Ciranda Contada. Confesso que eu fiquei com saudade! Quando a correria do dia a dia se junta com filho doente, dá nisso... Não sobra espaço para nada mais na cabeça, muito menos tempo para escrever. Mas quando a saudade se junta com o pedido desse querido blog, dá nisso... O texto sai em meia hora :).
Recepção de hospital, horas de espera. Lugar frio, sem nenhuma salinha de brinquedos ou um mísero monitor de TV com alguma programação infantil para entreter a criançada. O que sobra como alívio para o tédio?... O celular! Saaanto celular!
Filmes, jogos, fotos... E um grito:
"- Mamãe, por que você está beijando o papai na boca??"
Hein?!
"- por que você está com esse barrigão, beijando o papai?"
(*álbum de fotos: sete meses de gravidez)
Aquela pergunta assim, feita de maneira tão inesperada, me fez pensar num tantão de coisas. E uma palavra veio certeira: "Bingo!"
Eles entenderam que o pai e a mãe são patrimônio deles, independente de qualquer coisa e acima de tudo.
Fui tomada por um sentimento (imodesto, confesso) de alívio com orgulho. Alívio por saber que a segurança emocional deles quanto à afirmação do pai estava resolvida. Orgulho, por colher os méritos de um caminho árduo. Valeu a pena, sempre valerá, especialmente para eles.
Separação nunca é fácil, ainda que a gente tenha tomado a iniciativa. Com filhos, então, é mais difícil ainda. A separação, inevitavelmente, vem acompanhada de mágoas, ressentimentos, incertezas... E tudo que a gente quer é que isso acabe logo. Mas o "adeus", não será possível. Felizmente.
Não é fácil administrar e passar por cima desses sentimentos, mas é preciso. Porque, independente, do final do casamento, a gente continua sendo pai e mãe (dos mesmos filhos, vale lembrar! rs). Acima de qualquer mágoa, eu só conseguia pensar na importância que os meus pais tiveram (e têm) na minha vida. E entendi que ter um pai presente é tão importante quanto ter uma mãe presente.
Ainda com nó na garganta e o coração fraco, chamei o meu ex-marido para uma conversa. Uma semana após a separação, saímos para jantar e eu disse as palavras mais sinceras e mais duras que já disse em toda a minha vida (e sei que nada que sairá da minha boca até o final dos meus dias terá tanto sentimento quanto aquelas palavras que falei durante o nosso jantar):
"- sei eu que não fui uma esposa muito exigente, mas não espere esse comportamento meu como mãe. Eu não vou poupar você de nada. Eu vou extrair de você até a última gota. Eu vou exigir que você seja o melhor pai que eu sei que você consegue ser para os nossos filhos. Eles merecem isso. E você também merece".
Nós dois alí, assustados e chorando, selamos um acordo para toda vida. Foi o acordo mais difícil e o mais gratificante que já praticamos.
A partir daí, nos empenhamos em passar para as crianças a estabilidade emocional que elas precisavam, a segurança do amor incondicional e o laço forte que sempre nos unirá.
Nunca privei o contato das crianças com o pai, nunca quis assumir nada sozinha; sempre estimulei o convívio diário e a relação de amor e confiança com o pai, sempre falei o quanto o pai deles é legal e se importa com eles.
Sei que adotei um postura diferente da maioria das mães que se separaram. Usar os filhos como moeda de troca, restringir o contato, desqualificar o ex, isentar o pai das obrigações, distanciá-lo da vida dos filhos são, infelizmente, posturas muito comuns; mas são extremamente egoístas e nocivas às crianças. O casamento foi desfeito, mas a relação de pai e mãe deve se manter intacta.
É difícil, como eu sei. Os desentendimentos podem parecer maiores que a boa vontade em fazer a coisa respeitosa. Às vezes dá mesmo vontade de sumir no mundo, levando embora nossos filhos. Muitas vezes é difícil segurar a língua na presença deles. Sei como é complicado parecer que está dependendo do ex-marido para acompanhar o filho no evento da escola. Sei que dá vontade de encher o peito de orgulho e dizer que a gente não precisa do ex pra nada. Ok, é a mais pura verdade. Mas, acontece, que os nossos filhos pre-ci-sam!
Por tanto, é melhor encher o peito de amor e encarar o desafio. Favorecer e estimular uma relação saudável. Delegar responsabilidades ao pai, exigir a presença, passar amor, mostrar segurança. É tudo que os nossos filhos precisam.
Com o tempo, a pergunta chorosa "mamãe, por que o papai não está aqui agora?", será substituída por "mamãe, por que você está beijando o papai?". É quando a certeza vence a insegurança. É quando a relação de pai e filho é mais forte que qualquer papel assinado. É quando não precisa estar casado para cumprir a função. É quando eles entendem que sempre seremos para eles a mesma coisa: pai e mãe. É quando a relação fica imutável. É quando ela vira um patrimônio emocional. Bingo!
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