Antes de ter filhos, visitava a casa de alguns amigos que tinham filhos pequenos e percebia que a casa tinha perdido a sua personalidade e havia sido redecorada pelas crianças. Sempre era a mesma visão: a casa oca, sem nenhuma decoração, móveis espremidos nos cantos da sala e todos os objetos no alto das mais altas prateleiras. Só existia espaço para os diversos brinquedos espalhados pelo chão. Sempre achei lindo brinquedo de criança, mas confesso que aquela visão me passava uma sensação de descontrole e desorganização.
Conversei com algumas pessoas e pensei: os meus filhos vão nascer na minha casa e vão herdá-la do jeitinho que ela é. Pensei que era importante para a segurança emocional deles, perceber que o novo ambiente ao qual estariam inseridos, tinha personalidade e limites. Que a casa era deles, mas que eles tinham que se adaptar a ela. Pequenas mudanças foram feitas com muita atenção para preservar a segurança física das crianças: portas de segurança na escada (para subir e descer) e na cozinha; telas de proteção na casa inteira; proteção de tomadas e outras pequenas coisinhas. Nenhum móvel foi tirado de lugar, nenhum item foi remanejado. A casa inteira sempre esteve à disposição, nenhum inocente item de decoração ficou inacessível. E com a presença constante de adultos, eles foram aprendendo a respeitar a rotina da casa, a tocar nos objetos sem quebrá-los, a devolvê-los quando os tirassem do lugar. Sem neurose, sem stress.
Ficava feliz em ver que a minha vida estava completa e em harmonia. Ficava orgulhosa quando íamos na casa de parentes e amigos e eles não precisam tirar nada do lugar para nos receber; ficava satisfeita quando, naturalmente, as crianças brincavam com os objetos e os devolviam para o lugar certo. Não existia a ânsia de pegar tudo ao mesmo tempo e jogar pra cima, em vez disso, existia a tranquilidade de poder brincar tranquilamente, desde que com o olhar atento (e calmo) de um adulto. Respeitar o ambiente das crianças e fazê-las compreender o nosso. Acho que esse é o ponto.
Adoro brincar com os meus filhos. Fazer bagunça junto é uma delícia, curtimos muito! É chuva de cartas, guerra de travesseiros, cabanas de lençol, esconderijo de almofadas, quebra-cabeças, jogo da memória, massinha, desenhos, pega-pega, esconde-esconde e muito mais. E, depois de toda a estripulia, arrumar tudo é parte necessária da diversão. Educar crianças a serem responsáveis e independentes é dever dos pais. (Fala a verdade, coisa deprimente é ver um marmanjo sem capacidade de levantar a tampa do cesto de roupa suja ou sem conseguir pendurar uma toalha molhada...).
Hoje, ando pela casa e vejo como ela ficou mais bonita, mais colorida, mais feliz. A varanda ganhou status de playground. E, vira e mexe, surge pela casa obras lindas dos artistas mais amados do mundo. Ah, o que seria da minha vida sem algumas pecinhas de lego para enfeitar o meu dia?
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